
Existem pessoas que tem labirintite, zumbido no ouvido, sensibilidade auditiva, tonturas, enxaquecas. Existem idosos, bebês, enfim uma infinidade de seres sensíveis á energia grosseira dos estridentes ruídos do dia a dia. Más elas têm certamente o direito de viver neste mundo e serem respeitadas em suas particularidades. Digo isto porque tenho observado quanto ruído nutre os locais de espera até mesmo em órgãos de saúde, com suas TVs ligadas a todo volume, impedindo a concentração daqueles que preferem ler, meditar até mesmo conversar.
Se listarmos todos os sons
indesejáveis a que somos submetidos a cada dia, abafaremos de longe todo o
silêncio cultivado pelos monges que se espalham pelo mundo em estado de
meditação. Não por acaso as estatísticas revelam a quantidade de danos
auditivos irreparáveis em função dos níveis inaceitáveis de poluição sonora a
que somos expostos.
Olhamos para os alarmes de carro
disparando, as motos sem surdinas, os aceleradores de veículos velhos; sem
contar com aqueles aspiradores de pó que engolem tudo, especialmente a paciência da vizinhança,
e aquelas mulheres com vozes aguda que falam mais que a Maroca do Big Brother,
as musicas colocadas em alto volume como se o mundo todo tivesse de entrar
naquela vibração, crianças birrentas em supermercados, huuui...
Por óbvio não entrarei aqui no
terreno da boa educação. Prefiro como terapeuta, arriscar a dizer que a
presença cada vez mais candente de ruídos só se explica pela necessidade de
sufocar coisas que não se quer enfrentar. Os problemas quando analisados no
calor da agitação tomam vulto, enquanto que vistos no silêncio tomam sua
verdadeira dimensão.
A palavra preserva o contato,
revela a injustiça, firma posições e não permite que triunfe o mal sobre o bem.
Por outro lado é mais fácil arrependermo-nos daquilo que falamos do que das
vezes que silenciamos. O silêncio jamais nos trairá. Sendo ele um argumento difícil
de ser refutado, em determinados momentos, se constitui na resposta mais
adequada. É no silêncio que nos livramos da ansiedade e do stress.
O exercício do silêncio é tão
importante quanto á palavra, pois è no silêncio que ouvimos tudo. È o silêncio,
mais que o discurso, que realça a autoridade da pessoa. O silêncio traz
ressonância de paz, de encontro, de centramento. O silêncio nos permite escutar
nosso Eu Interior e nos comunicarmos profundamente com o Divino. O silêncio
representa tempo de pacificação e de reencontro consigo mesmo, com nossa matriz
criadora, com nosso átomo primordial. O silêncio nos possibilita escutar com o
coração, é o lugar da contemplação. É lá que nos encontramos com a mais fecunda
Sabedoria. Porque então não cultivar o
silêncio?
Julia Silveira