domingo, 27 de novembro de 2011

O Papel do Terapeuta na Construção da Cidadania

Fico impressionada quão diferente são as formas de atendimento terapêutico. É claro que respeito muitíssimo a maneira de cada um trabalhar assim como reconheço as necessidades de cada cliente. O Sindicato dos Terapeutas reconhece praticamente mais de setenta áreas terapêuticas e cada uma delas tem o seu tempo de resultado ótimo. Há uma progressão gradativa e lenta a se fazer com o cliente, cada progresso é um progresso e cada cliente tem seu tempo de rendimento.
 Existem áreas terapêuticas onde fica muito claro quando o cliente está pronto, já tem suas questões resolvidas, sua autoestima resgatada, está se sentindo fortalecido e mais feliz. Outras áreas mais sutis cujos resultados também são sutis. E aí é que entra o papel do Terapeuta consciente que ajuda seu cliente na construção  da  sua cidadania.
 
Ser cidadão é ser dono de sua vontade, é conseguir viver dependendo de si próprio. É reconhecer que tem uma necessidade de medicação constante e cuidados especiais e mesmo assim se sentir normal e viver feliz. É aprender a lidar com suas limitações físicas e emocionais sem depender de quem quer que seja. É saber, por ele mesmo, quando está pronto para enfrentar os percalços normais do cotidiano. É se sentir instrumentalizado para cuidar-se, de modo preventivo, de suas recaídas. É saber buscar suas próprias soluções quando o problema já se instalou. É saber dar o grito na hora certa e ter discernimento para não recorrer á pessoa (terapeuta)  errada. È se sentir livre para fazer suas próprias escolhas sem jamais se sentir julgado por sua ousadia.

Nenhum cliente deve se sentir dependente de um consultório médico ou terapêutico. Já vi médicos comentando com propriedade sobre clientes que procuram hospitais sem a menor necessidade, se considerar sua saúde física. Mas também já vi terapeutas quererem renovar consultas desnecessárias para manter seu cliente de refém e ter assim seu ingresso pecuniário garantido. Alguns chegam a proibir o cliente de participar de outros eventos que contribuem para a sua cura, numa tentativa de monopolizar o tratamento. Com isso caçam a cidadania do cliente, pois ao invés dele se sentir ajudado, sente-se amarrado. Não consegue se apoderar de sua vontade, pois o terapeuta que veio para libertá-lo o aprisiona.
O verdadeiro Terapeuta, aquele que além de propiciar a cura emocional liberta o cliente, este sim é um terapeuta cidadão. É um promotor da cidadania. Não há nada mais gratificante do que ver um cidadão que aprendeu a ser livre e autossuficiente. E nada mais nobre que ver um terapeuta ter a dignidade de reconhecer que seu cliente tem condições de andar sozinho, dispensando a ajuda daquele que já o promoveu.

                                                         Julia Silveira
                                                  Presidente do SINTER/RS


BUSCANDO-SE POR INTEIRO


             Quando acendemos uma vela, á sua volta se configura uma sombra. Se levantarmos a vela, a sombra aumentará.  E quanto mais alta estiver á vela maior será a sombra. Isso significa que quanto maior for a nossa luz mais projetada estará a nossa sombra. Se quisermos crescer, aumentar nosso nível de consciência, então teremos necessariamente que estar preparados para reconhecer nossa sombra, lidarmos com ela, reconhecê-la, enfrentá-la.

             Nossa luz e nossa sombra, que podem ser traduzidos pelo nosso Eu superior e nosso Eu inferior, precisam coexistir e serem aceitos, acolhidos, pois fazem parte do “dilema da dualidade humana”; alegria x tristeza, prazer x dor, satisfação x decepção. Precisamos assumir nossos sentimentos negativos e também a responsabilidade por nossas limitações para enxergarmos nossas qualidades.

             Àqueles que se negam a encarar sua sombra e querem mostrar somente luz acabam criando uma “autoimagem idealizada” e passam á vida inteira tentando sustentá-la. Quanto mais fazem esforço para se encaixar naquilo que pensam deveriam ser, mais se afastam de si mesmos. Sua autoimagem idealizada dita padrões de perfeição.  São muitas as máscaras que se criam para escamotear o seu Eu real. A “máscara da serenidade” é uma delas.

             Nesta máscara está contida a falsa concepção de que os problemas desaparecem desde que sejam negados; é uma tentativa de fugir das dificuldades da vida. E assim serenos, ficamos distanciados das pessoas e das emoções. Não lutamos pelo amor e acreditamos que a autoestima se consegue colocando-se acima das dificuldades, não se deixando afetar pela vida. Idealizamos a altivez e o distanciamento e desse modo bloqueamos a energia vital. Tornamo-nos retraídos, indiferentes, distantes e fugidios.

              È a máscara do retraimento que provoca a eliminação das emoções, o embotamento afetivo. È tão diminuta a confiança nos sentimentos e reações do Eu  real que se pode suportar apenas um pequeno grau de envolvimento com a vida. Acabamos por impedir o contato mais próximo e contínuo com as pessoas. Mas a máscara por ser falsa e, portanto, sem atrativos provoca a rejeição, até mesmo de quem a usa, recriando as mágoas que o fizeram fugir do seu eu.

             Se por sentirmo-nos rejeitados redobrarmos o esforço de aperfeiçoar a máscara, provocaremos mais rejeição, conduzindo-nos para um círculo vicioso. Se não desprendermo-nos dessa versão não vital de nós mesmos para tornarmo-nos o que realmente somos, não teremos chance de sermos felizes. È necessário que enxerguemos com realismo, quem realmente somos. Aceitar nossos defeitos e nossas grandezas, nossa bondade e nosso mal, pois a autoaceitação honesta constitui a base do autêntico respeito por si mesmo, que substitui a falsa autoestima assentada numa autoimagem idealizada.

              Reconhecer nossas defesas e a dor que está por traz delas e ainda se responsabilizar por esta atitude é o primeiro passo para promover a necessária libertação. A principal tarefa que Deus nos legou foi a nossa própria construção, a responsabilidade pela busca da nossa inteireza sem o que viveremos fragmentados, pouco aceitos e infelizes. Sim, pois a indignidade imposta sobre a individualidade pela autonegação aparece como desprezo e desqualificação de si mesmo. Provoca o autoapagamento e destrói o que poderia ser realmente genuíno.  Seja tu mesmo,se não conseguires sozinho,pois é desafiador mesmo, busque ajuda. Nós terapeutas estamos aqui para isto. 

                                                                   Julia Silveira

                                                                     

AO FINAL!

                             
Comecei tão rude, tão crua e tão pouco polida
Talvez indecisa, insegura e perdida
Andei, briguei sofri muito... sofri
Continuei a andar, ás vezes quase parando, e não desisti
Hoje agradeço cada lição, cada desafio
Que me levaram pra longe tal qual um navio
Cada colega me ajudou a tecer esta nova rede
Cada aula me conduziu a saciar mais a minha sede
Hoje estou aqui gratificada por tamanha oportunidade
De poder me aproximar cada vez mais da  verdade
E entender que é no recolhimento
Que encontrarei respostas e acolhimento
Que é na amorosidade silenciosa e pura
Que encontrarei abrigo e me sentirei segura
Para cumprir minha jornada encarnatório
Conduzindo outros também para esta glória
A gloria de ser sempre aprendiz 
E ainda assim conseguir ser feliz. 

                                        Julia Silveira -2007