Quando
acendemos uma vela, á sua volta se configura uma sombra. Se levantarmos a vela,
a sombra aumentará. E quanto mais alta
estiver á vela maior será a sombra. Isso significa que quanto maior for a nossa
luz mais projetada estará a nossa sombra. Se quisermos crescer, aumentar nosso
nível de consciência, então teremos necessariamente que estar preparados para
reconhecer nossa sombra, lidarmos com ela, reconhecê-la, enfrentá-la.
Nossa luz e nossa sombra, que podem ser
traduzidos pelo nosso Eu superior e nosso Eu inferior, precisam coexistir e
serem aceitos, acolhidos, pois fazem parte do “dilema da dualidade humana”; alegria x
tristeza, prazer x dor, satisfação x decepção. Precisamos assumir nossos
sentimentos negativos e também a responsabilidade por nossas limitações para
enxergarmos nossas qualidades.
Àqueles que se negam a encarar sua sombra e
querem mostrar somente luz acabam criando uma “autoimagem idealizada” e passam á
vida inteira tentando sustentá-la. Quanto mais fazem esforço para se encaixar
naquilo que pensam deveriam ser, mais se afastam de si mesmos. Sua autoimagem
idealizada dita padrões de perfeição. São muitas as máscaras que se criam para
escamotear o seu Eu real. A “máscara da serenidade” é uma delas.
Nesta máscara está contida a falsa
concepção de que os problemas desaparecem desde que sejam negados; é uma
tentativa de fugir das dificuldades da vida. E assim serenos, ficamos
distanciados das pessoas e das emoções. Não lutamos pelo amor e acreditamos que
a autoestima se consegue colocando-se acima das dificuldades, não se deixando
afetar pela vida. Idealizamos a altivez e o distanciamento e desse modo bloqueamos
a energia vital. Tornamo-nos retraídos, indiferentes, distantes e fugidios.
È a máscara do retraimento que
provoca a eliminação das emoções, o embotamento afetivo. È tão diminuta a
confiança nos sentimentos e reações do Eu
real que se pode suportar apenas um pequeno grau de envolvimento com a
vida. Acabamos por impedir o contato mais próximo e contínuo com as pessoas.
Mas a máscara por ser falsa e, portanto, sem atrativos provoca a rejeição, até
mesmo de quem a usa, recriando as mágoas que o fizeram fugir do seu eu.
Se por sentirmo-nos rejeitados redobrarmos o
esforço de aperfeiçoar a máscara, provocaremos mais rejeição, conduzindo-nos
para um círculo vicioso. Se não desprendermo-nos dessa versão não vital de nós
mesmos para tornarmo-nos o que realmente somos, não teremos chance de sermos felizes.
È necessário que enxerguemos com realismo, quem realmente somos. Aceitar nossos
defeitos e nossas grandezas, nossa bondade e nosso mal, pois a autoaceitação
honesta constitui a base do autêntico respeito por si mesmo, que substitui a
falsa autoestima assentada numa autoimagem idealizada.
Reconhecer nossas defesas e a dor
que está por traz delas e ainda se responsabilizar por esta atitude é o
primeiro passo para promover a necessária libertação. A principal tarefa que
Deus nos legou foi a nossa própria construção, a responsabilidade pela busca da
nossa inteireza sem o que viveremos fragmentados, pouco aceitos e infelizes.
Sim, pois a indignidade imposta sobre a individualidade pela autonegação
aparece como desprezo e desqualificação de si mesmo. Provoca o autoapagamento e
destrói o que poderia ser realmente genuíno. Seja tu mesmo,se não conseguires sozinho,pois é desafiador mesmo, busque ajuda. Nós terapeutas estamos aqui para isto.
Julia Silveira